Senhorinhas italianas e seus poderes sobre mim

Não vou fazer a influencer que ninguém nota que sumiu e do nada aparece num story falando "oi gente, sei que estou sumida, perdão", tá? A ausência foi um pouco mais longa do que o esperado, mas ela era esperada (por mim, haha). O que importa é que cá estamos, numa quinta-feira nesse texto juntas.

Num dos primeiros textos que eu fiz aqui eu falei sobre o conceito de "avisar" o seu cérebro sobre algo que você quer fazer porque aí ele te ajuda e vai rodando as ideias no background. O que eu não falei foi sobre o timing: as ideas vão vindo do mais absoluto nada em momentos difíceis de parar para idealizá-las o que nos leva a uma nota no meu celular chamada "Ideias". Confesso que tem coisa ali que eu achei que estava super claro de entender e pego pra ler hoje e não tenho a menor ideia do que se tratava, talvez nunca saberei.

Hoje quero juntar duas ideias que estão por lá: "Aparências" e "O que a gente quer?".

Conforme os anos se passam mais esses dois conceitos vão ficando nítidos, e conforme mais senhorinhas italianas eu conheço mais percebo que pra elas está escancarado.

Aparências

Eu tenho a sensação de que eu não tive muito na minha criação esse conceito de ter que me encaixar, ou ter que fazer coisas que eu não queria, então eu sou aquela pessoa que diz com tranquilidade e paz na alma "não".

"Não, não quero sair hoje".

"Não, não vou almoçar com vocês, porque quero ir em outro restaurante". (Um conceito que escrevendo aqui, e talvez pra você aí que está lendo parece absolutamente ok, mas te garanto que causa alvoroço no almoço do trabalho since que eu sou estagiária).

"Não, não gosto dessa coisa incrivelmente popular mesmo ela sendo incrivelmente popular".

Deu pra entender né? Mas aí vem o plot twist, eu me importo com as coisas mais aleatórias do mundo e *sofro* por horas depois. Tomara que essa história não seja confusa de entender porque ela é perfeita pra ilustrar:

O contexto que você precisa saber aqui é que no italiano se deve sempre tratar as pessoas que você não conhece na forma formal. E diferente do nosso português que até passa se você chamar um senhor de "você", aqui é questão de ofensa pessoal. E eu detesto a ideia de ofender os velhinhos italianos, me importo um tanto gigante com o que eles pensam de mim. O jeito de ser formal aqui é falar com a pessoa na terceira pessoa (é tão esquisito). Tipo: "Bom dia! Ela está bem hoje?" para dizer "Bom dia! Tudo bem com você hoje?"

A história:

Estava com Emilia (a cã), no parque. Uma senhora com um cachorrinho igual a Emilia se aproxima para que os cães troquem suas cordialidades. Após falarmos as amenidades iniciais oiquefofocomochamaquantosanostemomeutem1ano.

Ela diz: "O meu vai tomar banho hoje a tarde"

Eu digo: "Ela também precisa tomar, espero que vá essa semana".

Se eu te falar que eu penso nisso até hoje e isso já tem uns 2 meses talvez você não acredite. Talvez você nem tenha entendido, vou explicar por desencargo: até hoje no meio da noite eu paro pra pensar se a senhorinha não achou que eu disse que ela - a senhorinha - precisava tomar banho também.

E caso você não lembre, a Itália tem uma das populações mais idosas de todos os países. Ou seja, eu não me importo tanto com o que meus pares e amigos pensam de mim mas eu ligo um tantão pra muito idoso no dia-a-dia. Idosos esses que cruzo em parques, troco pequenas amenidades e nunca mais vejo. No fim, não tem como fugir de se importar com as aparências.

O que a gente quer?

Imagina agora comigo que estamos sentados de frente uma pra outra na sala aqui de casa trocando ideias, e eu te pergunto "Se dinheiro não fosse uma questão na sua vida nunca mais, o que você estaria fazendo?". Você teria uma resposta de bate e pronto? Importante notar que a pergunta não é de o que você faria se ganhasse um monte de dinheiro, tá? É sobre o que você faria se dinheiro basicamente não existisse.

Você tinha uma resposta já na cabeça?

Fazendo essa pergunta em rolês nas salas dos apartamentos que já morei na vida me surpreendi que essa resposta é um tanto difícil para as pessoas. Não é maluco? A gente passa tanto tempo reclamando que não tem tempo, mas nem sabe o que de fato faria com ele. A quantidade de livros que eu já li sobre esse assunto… Acho que é o tópico da minha vida as vezes. Toda vez que sinto que estou chegando perto ele vai pra longe.

Concluindo

O lugar que eu acho que esses dois temas se convergem é que a gente tem muito uma aparência a manter perante os outros: de que estamos sim seguindo todos os passos certinhos que fomos ensinados. Acredito que cada bolha tenha o seu roteiro, mas o da minha era: Colégio referência em vestibular → faculdade pública → trainee em empresas gigantes → promoção → promoção → MBA na gringa → diretoria → férias em ibiza (? nem sei).

Em algum momento ali a gente sai do roteiro, e parece que cai dentro de uma daquelas cenas de filme, que é um quarto branco que você não tem a menor ideia de qual o caminho a seguir agora que não está mais todo desenhado e trilhado no chão na sua frente.

E se você está imerso no combo: não saber o que quer fora disso + se importar muito com o que pensam de você, é meio que uma situação areia movediça, né?

Um ponto que eu bato constantemente quando entro nesse assunto com as pessoas é que pra mim a chave está na confiança. Se você confia no que escolheu fazer, não existem julgamento alheio e desvios de percurso que te tirem tanto do eixo.

Não, eu não sei como fazer para não se importar com a opinião dos outros e também não vou te falar o que você deveria fazer da vida. Mas queria abrir essa reflexão aqui pra que, caso você nunca tenha parado pra pensar, essa chama se acenda em você, porque eu duvido que seja pagar boleto, ir no mesmo rolê com as mesmas pessoas 20 vezes no ano e ir em reuniões que poderiam ser emails.

Até quinta que vem!


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