O tempo das coisas você quem define

Volta e meia a palavra "procrastinação" aparece aqui, consequências de ser do mundo corporativo nos tempos atuais. Hoje, queria trazer uma palavra irmã: postergar. Eu ando nessas, há muitos anos, de equilibrar minha relação com aplicativos, com internet e acho que fiz uma nova descoberta, sem perceber. Talvez seja também um jeito novo de explicar um hábito que alguns amigos podem considerar irritantes. Mas pondere essa palavra comigo um instante e nas conotações que ela tem pra você.

Vocês conhecem o Simon Sinek? Eu chutaria que provavelmente sim, por conta desse TED aqui com 19 milhões de views, sobre o Golden Circle, no qual ele explica sobre como a Apple vende os produtos de um jeito totalmente diferente das outras empresas e porquê isso é cativante. Nada disso vem ao caso hoje, era só pra citar um outro momento do Simon Sinek no qual ele faz uma entrevista inteira sobre millennials e porquê eles tem os sofrimentos e méritos que tem - eu me considero uma zillennial, tá? hahah estou na bem no corte entre as duas - e ele cita o fato de que todos nós estamos viciados em notificações porque elas literalmente tem o mesmo efeito viciante no nosso cérebro ao de álcool, dinheiro, comida, etc, todos liberam dopamina.

Cara, eu tenho me irritado em algumas redes que elas criam notificações de coisas que, na minha visão, não seriam notificações. Já reparou? Antes era quando alguém interagia com você (via comentário, tag, like, etc) ou alguém te adicionava, hoje eu estou recebendo notificação porque o amigo do meu amigo que eu nunca vi, postou alguma coisa que eu não quero ver, mas talvez eu goste. Tudo pra me fazer clicar mais, ficar mais tempo, abrir mais, é claro. Aonde isso vai parar?

Voltando ao postergar, eu decidi que as coisas que podem ser no meu tempo, serão no meu tempo. Tenho tentado quebrar a expectativa dos outros, e a minha própria, de que as coisas não precisam ser na hora. E além do mais, eu acho TÃO mais gostoso postergar pra sentir aquele quentinho no coração num momento em que ele é mais propício.

as coisas que podem ser no meu tempo, serão no meu tempo

São umas coisas que depois de ver o Simon falando, ou perceber sozinha, me parecem uma doideira quando testemunho ao vivo, vamos lá:

Estar aonde estou

Todo mundo está corrido, ninguém tem agenda, todo mundo mora longe, pega trânsito, mas você e seu amigo, vamos chamá-lo de Ernesto, finalmente conseguem encaixar um horário pra um almoço juntos na quinta depois do trabalho. Vocês não se viam há mais de 2 meses. Se encontram no horário, Ernesto está te contando da mãe dele enquanto espera o garçom vir pegar os pedidos. O seu telefone está em cima da mesa, tela pra cima. Chegam 15 notificações nesse tempo, o seu olhar desvia toda vez. De repente, Gabi, sua amiga que mora no seu prédio te liga, e aí você atende.

Vou repetir: Ernesto, cruzou a cidade pra estar ao vivo com você, mas a Gabi que você encontra no elevador dia sim dia não PRECISA te contar naquele mesmo momento sobre alguma coisa 100% não urgente.

Por que que o fato dela estar dentro do seu celular, faz ela subir na prioridade do ser humano que está na sua frente? Para pra reparar no quanto isso acontece ao seu redor.

Por que estamos todos igual fantasmas rolando feed enquanto estamos numa mesa junto com outras pessoas?

Se alguém te perguntar o que você viu depois daquele scroll você lembra? As vezes eu me sinto um zumbi mesmo, parece que meu cérebro só desconectou e eu fui pra outro lugar, porque esse comportamento simplesmente automatizou, não sei.

Então, eu decidi que vou estar com as pessoas 100% quando eu for estar. Talvez eu não te responda na hora, mas quando responder vou estar prestando atenção e não no meio de outra coisa. Pra mim, um sinal de respeito a mim mesma e a você.

Guardar os quentinhos no coração

Foi meu aniversário recentemente, e como não moro mais perto, nenhum dos meus amigos estava presente. A Paty, uma amiga perfeita, quem conhece sabe, me mandou uma carta através de uma outra pessoa que estava de passagem aqui pela Itália.

Gente, eu recebi essa carta tem umas 3 semanas, eu abri ela ontem.

Porque eu queria abrir num momento que sentisse certo, que minha cabeça estivesse no espaço mental que a Paty imaginou quando escreveu, e eu queria estar quando abrisse. Eu recebi essa carta quando eu estava com outras pessoas, num meio de um shopping, imagina se eu tivesse aberto lá? Eu ouço o barulho de mil pessoas no shopping e só de pensar it doesn't feel right. Então eu guardei, pra um momento de calma e me preencheu a alma quando abri, foi lindo e especial.

Isso também entra em linha com outra coisa: há muitos anos já eu não tenho notificações no celular. Por não ter notificações eu quero dizer, pra deixar claro:

  • Não tenho os banners que aparecem na tela bloqueada e desbloqueada

  • Não tenho nenhum barulho que possa fazer quando tem algum gatilho nos apps

  • Não tenho também aquela bolinha vermelha que fica com os números de quantas notificações não lidas existem em cada app. (E sim, tenho pesadelos quando vejo o das pessoas com 14,394 e-mails não lidos. Aline, estou falando com você).

Pra mim isso faz com que os apps não tomem conta da minha vida, e eu só entre neles porque eu tomei uma decisão consciente de entrar e ver o que tem ali. Postergando pra um momento que eu julguei fazer sentido.

Mas sendo bem sincera mesmo a única coisa que real me desvicia do celular é deixar ele bem longe em outro cômodo. Essas coisas só ajudam. Você tem alguma coisa diferente que faz? Me conta, por favor?

Até quinta que vem!


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