Caçando auroras no meio do parque

Semana passada eu deletei TikTok e Twitter do meu celular, percebi que a coisa tinha saído de controle e eu precisava parar de ser sugada por ele. A coisa estava nível: eu começava a me arrumar pra sair com horas de antecedência, saía do banho e pegava o celular rapidinho pra ver se ia chover mais tarde, e de repente estava há 40 minutos no TikTok ainda sem saber como deveria me vestir pro dia. Pois é, apaguei.

A minha regra nessas horas é: TikTok ainda pode ser usado no iPad e Twitter pode ser usado no browser, ambas experiências menos viciantes. Eis que sábado acabei acordando mais cedo que o normal, entrei no Twitter pelo browser E O FEED INTEIRO era aurora boreal em diversos cantos do hemisfério norte, por conta de uma tempestade solar muito forte (algo assim). Eu não costumo ser a pessoa do FOMO mas a coisa estava de um jeito que parecia só eu tinha perdido. Ninguém me avisou que era pra eu estar acordada de madrugada olhando pro céu. Não tinha o que fazer, não tinha como voltar no tempo.

Eis que, surge a informação de que a aurora apareceria de novo naquela noite. O Harry me contou de um app que te avisa da sua chance de ver e eu resolvi acreditar no impossível: de que eu veria uma aurora, da pracinha que eu passeio com a Emilia, na cidade mais poluída da Europa (veja o quanto delulu alguém pode ficar né?). Depois de 8km de passeio (o passeio é intenso quanto Renato vai junto, no passeio das meninas andamos no máximo uns 3km), lá estávamos sentados. Imagine a cena comigo, por favor: Renato resolvendo problemas do trabalho no telefone, querendo acreditar no meu sonho porém sem coragem de me falar que era um sonho impossível, Emilia dormindo profundamente roncando alto no banco, e eu com o celular apontado pro céu tirando 40 fotos por minuto tentando me forçar a enxergar uma mancha rosa ou verde. (O app dizia que algumas auroras só eram possíveis de serem vistas do celular ou da câmera). O amigo é de verdade quando ele, do Brasil, fica avaliando as fotos comigo e comprando meu sonho. Obrigada, Harry <3.

Vocês ouvem o podcast da Lela Brandão? Ele é minha companhia toda terça na academia. Ela já falou algumas vezes lá a ideia de que se uma mesma coisa está acontecendo várias vezes na sua vida, é porque você ainda não aprendeu o que precisava aprender com ela. E gente, acho que eu achei que tinha aprendido uma coisa que a aurora nos ensina que não aprendi, hahah.

Basicamente: não adianta se comparar com algo que não é comparável, em vários âmbitos da vida. Um clássico pra mim foi tanto na faculdade quanto no trabalho: eu era a mais nova nos dois, e me comparava com pessoas que talvez tenham sim entrado na mesma época que eu, mas que estavam literalmente com anos a mais de vivência. Porque até o final do colégio o jogo é mais equilibrado, todos temos a mesma idade, estudamos no mesmo lugar. Na faculdade o range da minha turma ia dos 17 aos 40+. No trabalho ainda se agrega o fator vivências, maturidade, etc. Simplesmente não é justo eu exigir de mim aos 20 algo que as pessoas conquistaram aos 25. Essa foi difícil de entender e aceitar. Vai bem na linha de quando olhamos pra experiências passadas e achamos elas muito mais navegáveis simplesmente porque temos mais bagagem.

Eu moro no hemisfério norte, no norte da Itália, mas não no norte da Europa. Como que eu espero ver uma aurora rosona linda gritando pra mim pela janela de casa, morando no meio de uma cidade, não no subúrbio, não no campo, não nas montanhas. Não tem uma foto da aurora com prédios atrás gente, hahaha, muito menos com outdoor da Prada, sabe?

É preciso que sejamos justas com nós mesmas, especialmente quando é algo gerando frustração, comparação e auto punição.

Um ponto que não ia puxar mas cá estou puxando também, é tomar cuidado com as coisas que a gente normaliza. Muitas das pessoas que viralizam nas redes viralizam justamente porque estão fazendo algo ~não normal~: o armário da Chiara Ferragni com 200 bolsas da Chanel, ou a blogueira de maquiagem com uma gaveta só pra batons, ou a pessoa voando toda semana pra algum canto do mundo. Quando a gente vê a gente está comprando 5 batons por mês pra uma boca só que você passa 1 vez na semana porque na real você nem curte tanto assim estar montada sempre. Entende? O trabalho dessa pessoa é te vender batons, por isso que ela tem às dezenas, mas não é o seu trabalho. Eu não compareço aos fashion weeks do mundo todo, enquanto faço campanhas publicitárias de alto luxo e frequento jantares com as pessoas mais influentes do mundo, preciso de bem menos bolsas e lookinhos (infelizmente).

Para encerrar: Emilia, a cã, também precisa compreender esse conceito, pois se compara com cachorros gigantes que estão soltos na área para cães do parque e não consegue compreender o motivo dela não poder fazer o mesmo no auge dos seus 7kg. Alguém tem dicas?

Até quinta que vem!


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