Ainda não sei meu lugar na estatística
Texto publicado também no meu substack.
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Qual foi a coisa mais estranha que você só percebeu que você faz porque alguém te falou?
Sobre pessoas te contando sobre você
Você já se pegou repensando alguma coisa e tendo uma perspectiva totalmente diferente sobre uma coisa do quando você teve a primeira vez que ouviu? Tem um certo estilo de frase que tem feito isso comigo ultimamente, e são as frases do gênero: "A gente só ouve as histórias de sucesso, os Steve Jobs, mas nunca ouve falar das outras 99,99% das pessoas que não deram certo" ou aquela que fala que a maioria das empresas vai a falência no primeiro ano. Lembro de ter sido meio mind blowing a primeira vez que ouvi, deve ter sido ali pelo primeiro ano de faculdade, estava começando a vivenciar um mundo novo e aquilo me fez acessar um lugar novo.
Não sei se foi a mudança de país ou a quantidade de novidades, ruins e boas, que tive que contar para as pessoas recentemente que me deixou pensando muito sobre como a gente ouve e responde aos outros. A Ana que vos fala, se hoje ouve uma dessas só consegue pensar: “que raios esse ser humano quer me dizer ao falar essas frases?”. Responde aí nos comentários, a pessoa que te diz isso quer:
Opção A (também conhecida como a opção otimista iludida): quer meu bem, e ela quer me manter com pés no chão, sabendo que as coisas podem dar errado.
Opção B: Essa pessoa quer me desencorajar de fazer isso e ela acha que esse tipo de frase é melhor caminho.
Opção C: Essa pessoa nem tá falando sobre mim, apesar de estar falando comigo, isso é sobre ela.
Convenhamos, em todas essas opções existia um jeito melhor de passar a mensagem, e em nenhuma dessas opções, eu vou me sentir encorajada/apoiada/motivada. Não estamos aqui defendendo aquele apoio sem olhar riscos e deixar seus amigos se meter numa furada, obviamente. Estamos aqui defendendo comunicação efetiva. Por quê que é tão difícil para as pessoas isso?
Tem um livro, lindo e maravilhoso, chamado “A voz na sua cabeça”, que transformou muita coisa pra mim! Recomendo que coloque na sua lista de leitura, mas resumindo um tantão: A gente consegue causar muito auto sofrimento só com os nossos divertidamente, é impressionante. E aí quando a gente vai ali, sair da nossa cabeça e da conversa que acontece só ali dentro, e procurar um amigo, temos que ouvir esse papinho do Steve Jobs. Gente, vamos inovar essa comunicação.
Tem uma parte desse livro que fala precisamente sobre boas formas de lidar quando alguém te procura para "desabafar", mas eu tento aplicar isso pra quando alguém me procura no geral. Alguns highlights do livro que eu gostaria de compartilhar:
Troque com seus amigos!
Pesquisas mostram que o mesmo circuito cerebral que se torna ativo quando somos atraídos por alguém ou consumimos substâncias desejáveis (qualquer coisa, de cocaína a chocolate) também é ativado quando compartilhamos informações sobre nós mesmos com os pessoas. Fonte: A voz na sua cabeça - Ethan Kross
Ou seja, a gente gosta de procurar nossos amigos e contar as coisas, por isso que raramente se nega uma fofoquinha, ou aquele papo na copa da empresa sobre literalmente qualquer coisa.
Entender o que aconteceu é importante, mas vamos focar no que vamos fazer daqui em diante
No livro o autor comenta, sobre o quanto, enquanto ouvintes, focamos no que aconteceu "quem, o quê, quando, onde, porquê do problema" . Isso faz a pessoa que está contando reviver a situação, o que pode não ser agradável, e não ajuda ela a ver lá na frente e seguir.
Ele diz que só ouvir a pessoa desabafar, ou contar, também não funciona. Precisamos ajudar ela pensar, considerando as necessidades dela. E não a nossa carga sobre aquele assunto. A partir daqui, eu particularmente penso também "o que eu acharia bom ouvir"?
A não ser que você esteja ouvindo a confissão de um crime, ou a ideia para: a. cometer um, b. se levar a falência c. fazer mal a ela mesma ou a outrem, pense com você "qual a melhor forma de eu apoiar essa pessoa agora e ajudar no próximo passo?". E vá navegando a conversa para a busca dessa perspectiva futura.
Sim, existem muitas outras pessoas com a mesma ideia. Sim, existe estatística. Mas como eu vou saber meu lugar nela? Deixa a pessoa tentar, apoie ela, esteja lá por ela e se de fato a profecia sobre Jobs se realizar, esteja lá por ela de novo. O tanto que ela aprendeu nessa jornada pode ser justamente o que ela precisa pra próxima.
Eu notei que existem duas reações mais comuns quando a gente conta essas novidades:
A pessoa que te apoia e te ajuda a delinear o caminho.
A pessoa que procura problema pra te pontuar, problemas esses que muitas vezes que são "problemas" só pra ela.
Somos humanos, e na sociedade atual acho que é muito fácil se ver condicionado a ir pro caminho 2, ele parece quase natural, mas prometo que é muito mais gostoso, para ambas as partes, quando a gente escolhe o 1.
Até semana que vem!
*revisando esse texto ele parece muito que é um texto de indiretas pra alguém muito desagradável que falou a frase do Steve pra mim, mas é só uma reflexão que me surgiu ouvindo histórias de amigos, vendo como eu mesma reajo com amigos e da vida mesmo. Então se a carapuça serviu, era pra servir mesmo. Brincadeira, não é pra ninguém, juro.